sábado, 20 de fevereiro de 2010

Coragem Para Falar a Verdade

Trabalhei sete anos na Rede Itatiaia de Rádio. E entre 1987 e 1994, assisti a fatos e presenciei coisas inacreditáveis nas dependências da emissora, as quais – reunidas a uma série de outros “eventos”, me mostraram o porquê de Belo Horizonte continuar a ser a capital de uma grande província, colonizada por empresários e políticos que nem lá nasceram. Um exemplo? O atual governador de Minas, Aécio Neves Cunha, é portador de uma carteira de identidade expedida pelo Instituto Félix Pacheco, do Estado do Rio de Janeiro.
Mas, os grandes exemplos de colonização e provincianismo existentes em Belo Horizonte não estão nos seus líderes que mistificam identidades. Estão mesmo é nos seus veículos de comunicação, que confundem informação com venda casada, numa promiscuidade de deixar qualquer um pasmo no desenrolar de seus novelos e meandros. Seja na política ou seja no esporte, o jabá campeia a grosso modo. Só não campeia na veiculação musical porque, no jargão das gravadoras e interessados, BH é considerada uma praça acessória, não sendo necessária a intervenção local, pois a intervenção nacional via redes de rádio e TV cobre satisfatóriamente os interesses da Indústria Cultural. Assim, o jornalismo cultural local é só provinciano. Todas as matérias interessantes para os cadernos de cultura são feitas por telefone e quando há um convite para um lançamento nacional, o editor responsável se arvora em repórter e faz a cobertura, as vezes falha, as vezes parcial, mas cumpre o objetivo.
Voltando a falar de política, é aí que a porca torce o rabo. O Jornalista Mineiro, em sua maioria, não vê mal nenhum em “trabalhar” na campanha política , seja de que candidato for. Alguns, mais afinados ideológicamente, trabalham – a baixo custo – com candidatos simpáticos, como é o caso de todas as candidaturas do PT. Já os outros trabalham para quem paga mais, no caso o PMDB, PSDB, DEM e outras legendas fisiológicamente conhecidas. Na maioria das vezes, além da campanha, o trabalho pode continuar com o jornalista se transformando em assessor parlamentar, contratado na modalidade de “recrutamento amplo”(Sem concurso).
A Repórter Mônica Miranda( rádio Itatiaia), depois de uma série de trabalhos em campanhas políticas, adquiriu uma cobertura no Bairro Gutierrez- considerado classe A- cujos imóveis são cotados em dólar. Seu padrinho de casamento é nada mais nada menos que o atual Senador Eduardo Azeredo, a quem ela prestou inúmeros “serviços” quando este era Governador do Estado e ela , destacada pela emissora para cobrir o Palácio da Liberdade. Seu nome apareceu, junto com outros repórteres da emissora, numa folha de pagamento da Prefeitura de Ribeirão das Neves, a época da então prefeita Gracinha Barbosa.
Outro que estava na mesma folha de pagamento é Eduardo Costa, detentor do horário das 13 às 14h na “rádio de Minas” e que, bem sucedido, mora com sua família num apartamento amplo situado a Rua dos Inconfidentes, na Savassi – o bairro socialite da cidade. Eduardo é aposentado como chefe da assessoria de comunicações da câmara dos vereadores de BH e , desde os anos 80, vêm – da mesma forma que Mônica – trabalhando nas campanhas do PSDB.
Aparecida Ferreira era repórter local( BH) da Itatiaia, e, depois de uma série de desentendimentos internos com a direção de jornalismo e com a direção geral da emissora, foi colocada numa sinuca de bico. Ou ia para Brasília como correspondente ou seria demitida. Aceitando o “convite”, aparecida teve sua cama de luxo preparada pela emissora que conseguiu junto ao Deputado Aécio Neves uma assessoria fantasma para que ela pudesse sobreviver na capital. Assim, desde o final dos anos 80 que Aparecida vêm prestando serviços , tanto à rádio Itatiaia quanto a clientela política com a qual a rádio tem acordo, a saber os srs. Eduardo Azeredo, Helio Costa, Romeu Queiroz e Miguel Martini.
Há algum tempo atrás, o repórter da Band News, Fábio Pannunzio, denunciou em seu blog as ligações perigosas da Rádio Itatiaia em Brasília. O Blog demonstrou que pelo menos três repórteres da Rádio Itatiaia estão ou estiveram lotadas nos gabinentes dos senadores Hélio Costa (PMDB-MG, atual ministro das Comunicações), Wellington Salgado (PMDB-MG) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG). E o que é mais grave: o diretor de jornalismo da emissora, Marcio da Conceição Doti, mantém a própria esposa pendurada numa sinecura no gabinente de Wellington Salgado desde 2003.
As reportagens tiveram uma enorme repercussão na internet. Foram reproduzidas em centenas de sites e geraram um fluxo de comentários espetacular. Todos os leitores condenaram a prática, que em outros tempos era conhecida pelo nome pejorativo de "jabaculê". Já para a Imprensa Escrita e Eletrônica Mineira, o assunto foi simplesmente desconhecido. Os jornais de Minas não foram capazes de dar uma linha sequer sobre o assunto. E, pior, não houve uma manifestaçao sequer de desaprovação à conduta aética por parte das entidades que representam a categoria. O único sindicalista que expressou sua opinião, ainda que em caráter pessoal, foi o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.
Ocorre que nem o site do sindicato mencionou o problema, numa cumplicidade que vêm se repetindo a algumas eleições no SINJOR-MG. É tido e sabido por todos na cidade que o “jornalismo esportivo” da Itatiaia vende, nos devidos termos, todas as matérias que faz nos clubes da capital. Qualquer excursão de clube mineiro ao exterior é “coberta” pela emissora, desde que o repórter encarregado viaje com a delegação do clube em questão e tenha todas as suas despesas pagas.
Wellington Campos, correspondente esportivo da Itatiaia no RJ é assessor de imprensa da CBF e, em todas as suas matérias , vem sempre “embutido” um release do Sr. Ricardo Teixeira. Essa promiscuidade existe desde os tempos em que Tancredo Naves- casado com Ester – Irmã de Januário e Emanuel Carneiro, era responsável pelo Departamento de Esportes da Emissora. Tancredo se elegeu Deputado Estadual, foi Presidente da ADEMG(Administração dos Estádios de Minas Gerais- mais precisamente e apenas o Mineirão) e se tornou sócio da empresa ao receber as concessões de rádio AM em Ouro Preto e Pirapora. Hoje em dia, o casal e o cunhado estão brigados, desfazendo a sociedade e, no distrato, receberam como compensação a ExtraFm, em BH e uma emissora em Uberlândia.
O sucessor de Tancredo Naves, Osvaldo Faria Evangelista- já falecido – é que levou a venalidade do departamento a ser escrita nas estrelas do céu. A vinheta de seu comentário diário- “Coragem para falar Verdade”- nunca foi dita por ele com tanto empenho e propriedade. Dependendo do ganho que tivesse, Osvaldo também tinha coragem para falar e sustentar mentiras – e como! Com Tancredo, conseguiu emprego na Assembléia Legislativa do Estado de Minas para seus filhos Cássio e Luiz. Mas, como rosas também tem espinhos, em alguma transação não explicada, Tancredo e Osvaldo entraram em choque. Pararam de se falar e Osvaldo, sempre que podia, dava uma beliscada no cunhado de Januário e Emanuel Carneiro. Numa transação anterior, Osvaldo havia entrado de sócio da Rádio Cultura, em detrimento de um antigo funcionário da casa – Geraldo Ferreira de Souza- o “Geraldão”- empregado dedicado, que havia salvo a Rádio Itatiaia da falência e havia levado a rádio Cultura a ser conhecida como a grande rádio musical de Belo Horizonte, e que também postulava essa sociedade. Confiante nessa prerrogativa, Osvaldo levou os ataques até o limite do possível. Mesmo assim, o caldo virou. Num certo dia, os ouvintes do “Coragem para falar a Verdade” tiveram a surpresa de ouvir a voz de Tancredo Naves. Tancredo respondeu às ofensas e contou várias histórias de Osvaldo, incluindo o pedido atendido de empregar seus filhos na ALEMG.
De outra feita, o jornal “Estado de Minas” publicou como matéria uma denúncia feita por torcedores do Clube Atlético Mineiro, que estavam na Suíça e viram anunciado uma partida de futebol entre o Atlético e um clube local. Ao chegarem ao estádio, qual a surpresa que tiveram ao ver um elenco desconhecido, encabeçado por Cássio Faria, filho de Osvaldo, entrar em campo como o time de Belo Horizonte! Osvaldo foi obrigado a ficar calado porque haviam fotos do evento e, numa delas, o rosto de Cássio era bem visível. Consultado a respeito, o Atlético não se manifestou a respeito, num silêncio cúmplice. Osvaldo Faria era conselheiro nato do clube.
A promiscuidade entre o Atlético e a Rádio de Minas não ficou só por aí. Nos anos 90, estourou na cidade o grande escândalo do bingo do Atlético, com comercial gravado na emissora pela voz de Roberto Abras, repórter que cobre o time desde a época em que o minério existente na Serra do Curral falava. No spot veiculado, era dito que o grande sorteio final seria ao vivo, num local público, transmitido ao vivo pela TV Bandeirantes local, às 13hs de um sábado. No dia aprazado, às 13 horas a Bandeirantes estava no ar com um programa local. Alguns possuidores das cartelas ligaram para a emissora no sentido de saber se o sorteio ia ser transmitido e tiveram como resposta um funcionário informando que a “fita gravada do sorteio” ainda não havia chegado. Na mesma hora, esses mesmos possuidores foram a polícia denunciar a venalidade da coisa, implicando no rolo Osvaldo e Roberto. A confusão gerada foi tal que o Clube se obrigou a devolver o dinheiro a todos que haviam comprado cartelas.
Mas nem sempre o ouvinte da rádio faz papel de trouxa. Foi assim com Tânia Moreira, namorada de Osvaldo, repórter da emissora e detentora de várias sinecuras conseguidas pelo prestimoso companheiro. Nos anos 90, Tânia cismou de ser vereadora. Conseguiu para si a legenda do PFL. Osvaldo não fez por menos. Colocou a serviço da namorada 17 carros de som e panfleteiros a dar com pau, todos comendo na cantina da rádio por sua conta. Entregou a todos os times de várzea que disputavam até campeonato de cuspe o “troféu Tânia Moreira”, dando citação a eles e a ela no seu comentário, numa flagrante violação da lei eltoral. Resultado: Tânia teve 318 votos. Dois anos mais tarde, Tânia e a direção de jornalismo da rádio brigaram, sendo a primeira demitida. Osvaldo não fez por menos: crio um noticiário esdrúxulo na rádio Cultura e contratou Tânia como repórter.
Nem só de Atlético vive o Esporte da Rádio de Minas. Vive de Cruzeiro e de América. As relações entre o Clube de Zezé Perrela e Waldir Barbosa, repórter da rádio encarregado de cobrir o clube sempre foram ótimas. Hoje, Waldir é diretor do Clube, encarregado das relações internacionais. Já o América, quando fez uma excursão a China, pediu ao departamento de esportes que escalasse um repórter com as despesas pagas pelo clube. O escalado foi Rogério Berto, que, hoje, não trabalha mais na emissora.
O locutor esportivo Alberto Rodrigues que, graças a emissora conseguiu se eleger vereador, foi acusado de ter recebido 30 mil reais para aprovar na câmara licença para a construção de um shopping. Alberto defendeu-se dizendo que ganha muito bem na emissora e não precisa desse tipo de expediente.
Estou começando a tentar mostrar um Iceberg gigantesco que flutua nas alterosas. Trata-se da Imprensa Mineira como ela é. Tive Coragem para falar a verdade sobre a rádio em que trabalhei. Depois de sete anos de trabalho e tendo tirado apenas duas férias durante os sete anos, fui demitido por falta de produtividade. Nunca fiz parte da “família Itatiaia”(É assim que os Carneiro gostam de falar de seus funcionários). Nunca participei de qualquer mutreta nem nunca recebi nenhuma sinecura. Confesso que se me oferecessem uma, aceitaria de bom grado, pois a emissora paga salário de fome. Fiquei tão decepcionado com a rádio que nunca mais pisei nas suas dependências.
Numa próxima oportunidade, vou falar do panorama político e sua relação com a Imprensa de Minas.

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